O velho lençol da enfermaria guarda muitas histórias. Apresenta-se meio desbotado,
experimentou noites de dor e silêncio,
acalentou frio e medo.
Noutras circunstâncias, aparou vômitos, fezes e sangue.
O velho lençol, hoje, parece fatigado,
Tem manchas e descosturas.
Nestas noites indômitas,
muitos gemidos contidos.
No último serviço fez-se embrulho, pacote lacrado, fechado, envolvendo um corpo inerte que era vida.
O velho lençol da enfermaria tem a sabedoria do vivido:
nem chora, nem reclama. Acha que é destino.
Antonio Mourão Cavalcante
(médico e poeta)
In: http://cafesfilosoficos.wordpress.com/2010/08/12/a-morte-como-encantamento-antonio-mourao-cavalcante/
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