domingo, 31 de julho de 2011
do pensar e do voar
Steven Kenny
pachorramente
em nuvens sonolentas
e mornas
pensamentos enluarados
aconchegam-se
e voam
sonham
com a crista das ondas
as asas dos pássaros
e a inclemência gozosa do vento...
Izabel Lisboa
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Se escrevo...
***
"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto." (§12)
(Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares)
(Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares)
quarta-feira, 20 de julho de 2011
lugar algum
- no oco de carcomidos becos do tempo
no abrigo daquelas sombras ralas e dormentes
ocultam-se impotentes revoltas
- por detrás de lábios secos e frígidos
plasma-se o pior
lubrificam-se orifícios ocultos
de um desejo roto
vasto em tédio e dormência
- se dele arrancado o lacre
em vão desata-se o nó
que ata as luzes da noite
às sombras diurnas
[substratos de um mal estar]
Izabel Lisboa
sábado, 16 de julho de 2011
outros tons
- caixinhas de
lápis de
cor
guardam mais
que a íris
de um arco
- guardam
cores fortes
de despedidas e
nostalgias
- guardam
rabiscos de vida
de um
lilás tão cinza
de um azul tão tristeza...
Izabel Lisboa
sexta-feira, 15 de julho de 2011
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Andrômeda
Andrômeda
a vaidade gerou vingança
e sede de devastar...
em oferta de sacrifício
um talismã de carne e sangue
atado ao rochedo em Jaffá...
e sede de devastar...
em oferta de sacrifício
um talismã de carne e sangue
atado ao rochedo em Jaffá...
Izabel Lisboa
segunda-feira, 11 de julho de 2011
deus está nu
- deus está nu no
parapeito do precipício
deus está nu...
- despiu-se de sua divindade
e de sua eternidade...
- perpétuo penúltimo ato
[estamos salvos]
deus está nu...
- despiu-se de sua divindade
e de sua eternidade...
- perpétuo penúltimo ato
[estamos salvos]
Izabel Lisboa
domingo, 10 de julho de 2011
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Porque não aceitei o prêmio do PNBE
Blog da Professora Amanda Gurgel: http://blogdaamanda.com.br/
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Oi,
Nesta segunda,o Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE) vai entregar o prêmio "Brasileiros de Valor 2011". O júri me escolheu, mas, depois de analisar um pouco, decidi recusar o prêmio.
Mandei essa carta aí embaixo para a organização, agradecendo e expondo os motivos pelos quais não iria receber a premiação. Minha luta é outra.
Espero que a carta sirva para debatermos a privatização do ensino e o papel de organizações e campanhas que se dizem "amigas da escola".
Amanda
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Natal, 2 de julho de 2011
Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,
Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação”. A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho.
Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.
A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.
Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.
Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,
Professora Amanda Gurgel
_______________________________-
Bravo!!!
E parafraseando
Gonçalves Dias:
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui Amanda Gurgeiam,
não Amanda Gurgeiam como Lá
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui Amanda Gurgeiam,
não Amanda Gurgeiam como Lá
Bravíssimo!!!
Izabel Lisboaquinta-feira, 7 de julho de 2011
Infâncias & Lembranças
[Texto
atualizado/reeditado – 07/11/2009]
Conheci no
Colégio de freiras, as tais vias pedagógicas
à antiga de mandar criança “lavar a
boca” quando o desajuizado órgão proferia palavreado de baixo calão; que por
descuido nosso, ou não, feriam os ouvidos santos das devotadas mestras. O
interessante é o uso que fazíamos disso! Quando entediadas (o colégio só
aceitava meninas) com a rígida disciplina de sala de aula proferíamos
propositalmente os tais palavrões, para sermos encaminhadas ao pátio no andar inferior
do colégio para lavarmos a maldita
boca e salvar a alma do fogo da Geena! Bons tempos aqueles! Infringir a “lei”
é excitante, e criança sabe bem disso! Chama-se: fazer arte! Perfeito!!! Uma criança arteira é uma criança esperta!
Contei isso para a turma do 8º ano do ensino fundamental onde concluí um de meus estágios vinculados ao curso de Licenciatura em Filosofia, os alunos arregalaram os olhos espantados e nada disseram, provavelmente riram por dentro, afinal esse é um tipo de infração fichinha diante das infrações que ocorrem hoje em dia em algumas escolas!
Contei isso para a turma do 8º ano do ensino fundamental onde concluí um de meus estágios vinculados ao curso de Licenciatura em Filosofia, os alunos arregalaram os olhos espantados e nada disseram, provavelmente riram por dentro, afinal esse é um tipo de infração fichinha diante das infrações que ocorrem hoje em dia em algumas escolas!
Não narro esse fato por saudosismo,
afinal a violência do “vigiar e punir”, apesar de suas sutilezas, deixou marcas
e traumas terríveis incrustados na alma de gerações inteiras. Mas, como disse
anteriormente, infringir a lei é excitante. É justamente desse impulso de questionar
e transgredir o estabelecido que nascem as revoluções e as significativas mudanças
históricas. Há no jovem, e na criança especialmente, uma energia que impulsiona
a alterar uma determinada ordem vigente. É próprio da juventude questionar e
buscar implantar uma nova ordem permeada por novos valores e desejos de novos
horizontes. O ímpeto dos Movimentos Estudantis, por exemplo, sempre foi fator
decisivo em inúmeras revoluções no mundo inteiro.
No entanto, essa energia, se
canalizada apenas para a violência destrutiva e nada mais, sem ter a reboque
uma reflexão politizada que, além de derrubar valores e dogmas vislumbre e
construa essa almejada nova ordem,
pode levar, não à destruição da ordem vigente que se questiona, mas à própria autodestruição,
à implosão daquilo que é imprescindível para saltos qualitativos na história de
um povo: a força da juventude.
E pelo andar da carruagem...
Matéria de
capa do Jornal A Tribuna de hoje, 07/07/2011:
Pancadaria e ameaça de morte em escolas da grande Vitória.
Um estudante foi agredido por 50 colegas em Cariacica
e, em Vitória, uma menina foi atacada por 15 pessoas. Os casos foram parar na
polícia. Na Serra sindicato afirma que
professores e alunos foram ameaçados de morte.
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Izabel
Lisboa
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Slavoj Zizek - Entrelinhas 19/06/2011
["Os poetas são perigosos"]
- Slavoj Zizek é professor, sociólogo, filósofo e teórico
crítico esloveno. Estudou Psicanálise na Universidade de Paris.
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Teoria: o real, o simbólico e o imaginário
Teoria: o real, o simbólico e o imaginário
O real
Segundo Žižek, o
"real" resulta ser um termo bastante enigmático, e não deve ser
equiparado com a realidade, uma vez que a nossa realidade está construída
simbolicamente; o real, pelo contrário, é um núcleo duro, algo traumático que
não pode ser simbolizado (isto é, expressado com palavras). O real não tem existência
positiva; só existe como abstracto.
Para Žižek, a realidade pode
ser desmascarado como uma ficção; basta ter presente certos aspectos - pontos
indeterminados - que têm que ver com o antagonismo social, a vida, a morte, e a
sexualidade. Temos que enfrentar com estes aspectos se quisermos simbolizá-los.
O real não é nenhuma espécie de realidade atrás da realidade, mas sim o vazio
que deixa a própria realidade incompleta e inconsistente. É o espectro do
fantasma; o próprio espectro em si é o que distorce a nossa percepção da
realidade. A trilogia do simbólico/imaginário/real se reproduz dentro de cada
parte individual da subdivisão. Há também três modalidades do real:
- O "real simbólico": o significante reduzido a uma fórmula sem sentido (como em física quântica, que como toda ciência parece arranhar o real mas só produz conceitos apenas compreensíveis)
- O "real real": uma coisa horrível, aquilo que transmite o sentido do terror nas películas de terror.
- O "real imaginário": algo insondável que permeia as coisas como um pedaço do sublime. Esta forma do real torna-se perceptível na película Full Monty, por exemplo, no facto de que na nudez dos protagonistas desempregados, estes devem despir-se por completo; noutras palavras, através deste gesto extra de degradação "voluntária", algo da ordem do sublime se faz visível.
A psicanálise ensina que a
realidade (pós-moderna) precisamente não deve ser vista como uma narrativa, mas
como o sujeito o há de reconhecer, suportar e ficcionar o núcleo duro do real
dentro de sua própria ficção.
O simbólico
Žižek afirma que o simbólico
inaugura-se com a aquisição da linguagem; é mutuamente relacional. Assim,
sucede aquilo de que "um homem só é rei porque os seus súbditos se
comportam perante ele como um rei". Ao mesmo tempo, permanece sempre uma
certa distancia no que diz respeito ao real (excepto na paranóia): nem só é
louco o mendigo que pensa que é rei, também aquele rei que verdadeiramente crê
que é um rei. Uma vez que efectivamente, este último só tem o "mandato
simbólico" de rei.
- O real simbólico é o significante reduzido
a uma fórmula sem sentido.
- O imaginário simbólico qual símbolos
jungianos.
- O simbólico simbólico como o falar e a
linguagem como sentido em si.
- O visor do monitor como forma de comunicação no ciberespaço: como um interface que nos leva a uma mediação simbólica da comunicação, a um abismo entre quem seja que fala e a "posição de falar" em si (p.ex. a alcunha, ou a direcção de correio). "Eu" nunca "de facto" coincido exactamente com o significante, não me invento a mim mesmo; em contrapartida, a minha existência virtual foi, em certo sentido, já confundida com o surgimento do ciberespaço. Aqui cada um, deve chegar a entender-se com uma certa insegurança, mas não pode ser resolvida como num simulacro de contingente pós-moderno.
Aqui também, como na vida
social, as redes simbólicas circulam á volta dos núcleos do real, deste modo,
as redes simbólicas, são a nossa realidade social.
O imaginário
O imaginário, segundo Žižek,
encontra-se situado ao nível da relação do sujeito consigo mesmo. É como o
olhar do Outro na etapa do espelho, a falta em esse reconhecimento ilusório,
como conclui Jacques Lacan citando a Arthur Rimbaud: "Eu sou um
outro" ("Je suis un autre"). O imaginário é a fantasia
fundamental que é inacessível á nossa experiência psíquica e se eleva do
espectro fantasmático em que encontramos objectos de desejo. Aqui também
podemos dividir o imaginário entre um real (o fantasma que assume o lugar do
real), um imaginário (a imagem/espectral em si que serve como isco) e um
simbólico imaginário (os arquétipos de Jung e o pensamento New Age). O
imaginário nunca pode ser agarrado, já que todo discurso sobre ele sempre
estará localizado no simbólico.
Todos os níveis estão interligados,
de acordo com Jacques Lacan (desde o seminário XX para a frente), numa forma de
nó gordiano, como três anéis enlaçados juntos de maneira que se um deles se
desenlaçar, o resto também cairia.
__________________________________sábado, 2 de julho de 2011
celeiros abarrotados
e quem te pediu o sol
para inquietares tu'alma
para inquietares tu'alma
e a chuva
para perderes o tino
para perderes o tino
e quem te pediu o vento
para estremeceres em sobressaltos
para estremeceres em sobressaltos
e o céu
para importunares os deuses
para importunares os deuses
nada te foi pedido
nada me foi negado
nada me foi negado
sobre todos velam os
deuses
com brandura...e com furor
com brandura...e com furor
a cada um: fardos e dádivas
árvores serão eternamente prisioneiras do solo
e do fogo quando esse se alastra...
mas...a cabeleira do vento dança
sobre a magnífica copa das árvores
e carrega sementes e faz promessas...
em metáforas de liberdade
rege a orquestra da natureza em regozijo
mas...assusta e faz calar tambores...
árvores serão eternamente prisioneiras do solo
e do fogo quando esse se alastra...
mas...a cabeleira do vento dança
sobre a magnífica copa das árvores
e carrega sementes e faz promessas...
em metáforas de liberdade
rege a orquestra da natureza em regozijo
mas...assusta e faz calar tambores...
Izabel Lisboa
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