sábado, 7 de agosto de 2010

Filosofia como disciplina do ensino médio.

A obrigatoriedade da Filosofia no ensino médio já é uma realidade, isso agora é fato, pois agora é lei. Penso, porém, que não devemos sobrecarregar a Filosofia, como disciplina obrigatória do ensino médio, com expectativas muito grandes como se ela fosse a salvação da Pátria que vai resolver todos os problemas por que passa o sistema educacional brasileiro e de lambuja sanará outras questões sociais e estruturais básicas por que passa a nação brasileira.

Essa idéia se fundamenta na crença de que o estudante ou o trabalhador, não tem senso crítico, não sabe pensar a realidade criticamente, sendo assim, é preciso que venha de fora alguém com um saber verdadeiro, uma intervenção quase que divina para conscientizar as mentes atrofiadas. E essa sobrecarga, essa intermediação, é colocada sobre os ombros do professor, e no caso em questão por conta da recente obrigatoriedade pode ser colocada, também, sobre o professor de Filosofia. Claro que não quero aqui negar a importância do espaço da Escola como lugar privilegiado para mudanças e transformações sociais. Fazer isso seria negar a própria História!

Porém, as experiência de estágio que realizei no curso de Licenciatura em Filosofia junto as Escolas de ensino médio, mostraram que a realidade é bem diferente, ou seja, senso crítico é o que não falta entre os estudantes, e o professor não deve se sobrecarregar em sua prática com uma auto-cobrança exacerbada no que se refere a provocar acentuadas reviravoltas na vida dos indivíduos e na realidade à sua volta.

Aprendi em minhas experiências como Assistente Social que essa sobrecarga de expectativas somente trás angústia para o profissional, que tem afetada sua saúde física e psíquica. A Síndrome de Burnout¹ é uma evidência dessa sobrecarga.

Quando cursava Bacharelado em Serviço Social eu percebia que havia de forma latente entre alunos e profissionais da área - e por observações que tenho feito acredito que ainda há - uma ansiedade e uma frustração muito grande, pois introjetamos um forte idealismo de mudar a realidade, de conscientizar, de transformar a sociedade, e isso de um dia para o outro. Creio que a forte conotação marxista do referencial teórico do próprio curso gera essa auto-cobrança. No entanto, essas mudanças bruscas no âmbito político, social, econômico com maior freqüência acontecem quando há insurgência de revoltas, manifestações e revoluções populares - que são importantíssimas para os saltos qualitativos que acontecem na História e que, sem dúvida, a prática e o compromisso do professor pode (ou não) instigar.

Outro aspecto a se notar é que o profissional acaba por passar para os indivíduos com os quais trabalha a mesma angústia. No caso dos alunos, o professor sendo muitas vezes referência simbólica e arquétipo para sua formação, essa angústia pode ser elemento absorvido fortemente pela personalidade de muitos alunos. Ou seja, angústia gerando angústia. Com certeza esse seria um bom tema para um Projeto de Pesquisa, em?!

Enfim, credito que essa expectativa exagerada também se aplica à Filosofia como disciplina.

Creio, todavia, que a postura filosófica de um professor é provocar e fazer fluir dos próprios indivíduos, ou seja, dos alunos, aquele conhecimento que já está nele.

Trata-se de uma prática provocativa, que faz vir à superfície um saber já existente e que ao mesmo tempo é novo. Sendo assim, leitura que o aluno fará da realidade a sua volta pode divergir daquela que o professor sustenta, e o rumo, ou a aplicação na prática que o aluno dará ao conhecimento que porventura fluir dessas provocações dependerá dos impulsos individuais do aluno.

A idéia que temos da prática de um professor em sala de aula é a de dar aos alunos respostas prontas, que os alunos esperam que o professor tenha, e, que o próprio professor mesmo acredita que tem, e, que imagina que tem que ter. É a velha história do professor ser o detentor do saber, enquanto o aluno o ignorante que precisa aprender do mestre.

Acredito que o diferencial da Filosofia é o espaço em branco, o algo mais por trás das palavras, por trás das respostas prontas, até mesmo por trás dos silêncios e das interrogações que os indivíduos após as aulas podem levar consigo e que podem provocar neles um saudável movimento interior... Os movimentos exteriores, se acontecerem, serão conseqüência das definições que o próprio indivíduo formulou, dos conceitos que ele mesmo inventou.

Extirpa-se, assim, do professor a culpa, o remorso, a sobrecarga de ter de conscientizar e não conseguir fazê-lo, de ter que formar cidadãos críticos e criativos e não conseguir formá-los, de ter que ser portador de um saber verdadeiro, que deve ser bem transmitido para ser plenamente absorvido pelos alunos, de ter, de ter, de ter e de ter...

No entanto não se trata de uma postura descompromissada diante dos alunos e da realidade, se trata de não rotular o professor de filosofia como salvador da pátria e portador de uma sabedoria sublime e exclusiva!

Creio que isso representa uma pequena pista do que seja a prática da Filosofia como disciplina... Temos que buscar juntos outras pistas...

1- A Síndrome de Burnout é causada por circunstâncias relativas às atividades profissionais, ocasionando sintomas físicos, comportamentais, afetivos e cognitivos. Inicialmente foi observada em trabalhadores da área da saúde que desempenham uma função assistencial, caracterizada por um estado de atenção intenso e prolongado com pessoas em situação de necessidade e dependência. Com o passar do tempo, pôde ser identificada em outras profissões, entre elas a de professor.


De acordo com a pesquisadora do Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB (Universidade de Brasília), Iône Vasques-Menezes, no caso do professor, a razão para a incidência da síndrome está ligada, sobretudo, à falta de reconhecimento. "A desvalorização do professor, seja ela por parte do sistema, dos alunos e da própria sociedade, é um dos maiores agentes para a ocorrência do Burnout", explica.


O Burnout em professores pode ser caracterizado por um estresse crônico produzido pelo contato com as demandas do ambiente acadêmico e suas problemáticas. Para a pesquisadora, especialmente aquelas que não dependem apenas da ação dos docentes para serem resolvidas. "Existem problemas que estão muito além da ação direta dos professores, principalmente onde há uma situação de degradação do sistema. Nestes casos, a sensação de impotência é mais acentuada", revela.


Além disso, o posicionamento dos alunos em sala de aula também contribui para um maior desgaste. Em muitos casos, a indisciplina é a grande responsável por uma eventual sensação de frustração e até a desmotivação do profissional. Segundo Iône, não são raros os professores que se queixam da falta de interesse dos alunos e assumem a culpa por este fato acreditando que deveriam dominar as mais diferentes técnicas para estimular o aprendizado.
 In: http://www.universia.com.br/docente/materia.jsp?materia=5750 
  

Izabel Lisboa

Julho/2008

eis a razão dos meus poemas

para que não te esqueças dos meus beijos
dos meus olhos
e do meu desejo
e de cada afago
daquela nossa emoção
só nossa
e da minha saudade
e do meu amor constante
eis a razão dos meus poemas
nossa terna comunicação
nosso oásis em meio à seca
uma ponte que nos faz um
que encurta nossa trágica distância
eis a razão dos meus poemas
e quando chegar o frio
e quando a dor no peito apertar
e não me tiveres por perto para te acalentar
eis a razão dos meus poema
e quando quiseres voltar
mas o rumo que traz até mim
você não encontrar
eis a razão dos meus poemas
que fiz para te nortear
***

Izabel Lisboa