domingo, 29 de maio de 2011

Decadence avec elegance

Formada em Serviço Social trabalhei seis anos na profissão. Constatado o fato de estar pagando para trabalhar, já que o salário era, e ainda é, uma merreca, larguei a canoa furada: o idealismo não dava para pagar a creche do meu filho.
Parti para o ramo do comércio, no qual fiquei dez anos.
No começo, quando trabalhava no chamado mercado informal, o leite da minha vaquinha deu até para comprar um Fusca, uma fofura de carrinho! Aí resolvi legalizar o negócio: abri uma loja. Resultado desastroso: a minha vaquinha juntamente com o meu fusquinha e a minha saúde foram para o brejo. E esse brejo tem nome: carga de impostos – uma carga cruel! Quebrei...a cara e o negócio!
Resolvi voltar a Academia para uma reciclagem na fuselagem, isso para um possível retorno ao famigerado (para uns), repulsivo (para outros) e cobiçado (por todos) mercado de trabalho. Optei pelo curso de Licenciatura em Filosofia.
O problema é que tenho sido invadida por uma leve e incômoda impressão de que essa nova vaquinha está tomando um rumo muito estranho! Afinal, a Filosofia não é vaca leiteira para dar lucro ou algum tipo de retorno financeiro! Ou será que é?!
Já ando sonhando com Sócrates e Platão, Górgias e Protágoras, lutando Box nas Agorás de Atenas: "vender ou não vender o saber, eis o dilema", que hoje está mais para: "sobreviver ou não sobreviver, eis a novela!" Pena que o tempo dos oráculos já se foi, senão pegaria senha e enfrentaria até fila para ter uma palavrinha com o de Delfos (que, ao contrário do Palocci, prestava assessoria gratuita). Mas, se a entidade delfoniana viesse com aquele "papo cabeça" de que o lance é o "Só sei que nada sei", e que o "partejar ideias" tem que ser gratuito e por amor a sabedoria, maieuticamente falando eu questionaria o porquê do FHC, do Palocci e outros "ex-alguma coisa no governo", venderem (prestarem assessoria) o que juram que NÃO SABEM e estarem montados na grana!
Que me perdoem aqueles que querem reabilitar a dignidade da sofística, mas acredito que, talvez, essa nova espécie de assessores tenha tomado como exemplo a ser seguido a sofística com aquela conotação pejorativa conhecida, e que aprendemos a criticar... Só sei que andam vendendo "um determinado saber, que só eles sabem", e fazendo a festa bonitinho debaixo do nosso nariz...
Porém, como sou muuuuito ponderada, ponderei: a questão é que em Atenas o salário dos “prostitutos do saber” era pago em dracmas (moeda real da Grécia Antiga) e o salário dos contemporâneos mestres, “putos da vida com o barateamento do saber”, é pago em real (moeda ideal do império tupiniquim). Já os ganhos dos discípulos contemporâneos dos sofistas, FHC, Palocci e Cia Ltda., são pagos em dólar (moeda real e ideal do império ianque; não sei até quando, mas se depender de Obama, o show, comandado pelos ianques e os britânicos, tem que continuar, apesar dos emergentes, incluindo nóis na fita)
Pois é...nada como uma boa ponderação para partejar o âmago da ideia por detrás da coisa!
Bem, voltando ao meu brejo e as minhas vaquinhas: dizem que crise é uma coisa legal, que nas crises a gente CRESCE e blá, blá, blá. Deve ser sim, mas isso deve valer somente para quem está fora delas! Em minha crise existencial eu já ando ouvindo vozes... Deve ser a tenebrosa voz da minha consciência me alertando: - Brejo, aí vou eu...Brejo aí vou eu...!

Izabel Lisboa


(texto escrito em 2009 / repaginado)