quarta-feira, 6 de julho de 2011

Slavoj Zizek - Entrelinhas 19/06/2011




["Os poetas são perigosos"]
- Slavoj Zizek é professor, sociólogo, filósofo e teórico crítico esloveno. Estudou Psicanálise na Universidade de Paris.
- Blog que reune conteúdo em português de Zizek:
   
http://slavoj-zizek.blogspot.com/ 
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Teoria: o real, o simbólico e o imaginário
O real
Segundo Žižek, o "real" resulta ser um termo bastante enigmático, e não deve ser equiparado com a realidade, uma vez que a nossa realidade está construída simbolicamente; o real, pelo contrário, é um núcleo duro, algo traumático que não pode ser simbolizado (isto é, expressado com palavras). O real não tem existência positiva; só existe como abstracto.
Para Žižek, a realidade pode ser desmascarado como uma ficção; basta ter presente certos aspectos - pontos indeterminados - que têm que ver com o antagonismo social, a vida, a morte, e a sexualidade. Temos que enfrentar com estes aspectos se quisermos simbolizá-los. O real não é nenhuma espécie de realidade atrás da realidade, mas sim o vazio que deixa a própria realidade incompleta e inconsistente. É o espectro do fantasma; o próprio espectro em si é o que distorce a nossa percepção da realidade. A trilogia do simbólico/imaginário/real se reproduz dentro de cada parte individual da subdivisão. Há também três modalidades do real:
  • O "real simbólico": o significante reduzido a uma fórmula sem sentido (como em física quântica, que como toda ciência parece arranhar o real mas só produz conceitos apenas compreensíveis)
  • O "real real": uma coisa horrível, aquilo que transmite o sentido do terror nas películas de terror.
  • O "real imaginário": algo insondável que permeia as coisas como um pedaço do sublime. Esta forma do real torna-se perceptível na película Full Monty, por exemplo, no facto de que na nudez dos protagonistas desempregados, estes devem despir-se por completo; noutras palavras, através deste gesto extra de degradação "voluntária", algo da ordem do sublime se faz visível.
A psicanálise ensina que a realidade (pós-moderna) precisamente não deve ser vista como uma narrativa, mas como o sujeito o há de reconhecer, suportar e ficcionar o núcleo duro do real dentro de sua própria ficção.
O simbólico
Žižek afirma que o simbólico inaugura-se com a aquisição da linguagem; é mutuamente relacional. Assim, sucede aquilo de que "um homem só é rei porque os seus súbditos se comportam perante ele como um rei". Ao mesmo tempo, permanece sempre uma certa distancia no que diz respeito ao real (excepto na paranóia): nem só é louco o mendigo que pensa que é rei, também aquele rei que verdadeiramente crê que é um rei. Uma vez que efectivamente, este último só tem o "mandato simbólico" de rei.
  • O real simbólico é o significante reduzido a uma fórmula sem sentido.
  • O imaginário simbólico qual símbolos jungianos.
  • O simbólico simbólico como o falar e a linguagem como sentido em si.
  • O visor do monitor como forma de comunicação no ciberespaço: como um interface que nos leva a uma mediação simbólica da comunicação, a um abismo entre quem seja que fala e a "posição de falar" em si (p.ex. a alcunha, ou a direcção de correio). "Eu" nunca "de facto" coincido exactamente com o significante, não me invento a mim mesmo; em contrapartida, a minha existência virtual foi, em certo sentido, já confundida com o surgimento do ciberespaço. Aqui cada um, deve chegar a entender-se com uma certa insegurança, mas não pode ser resolvida como num simulacro de contingente pós-moderno.
Aqui também, como na vida social, as redes simbólicas circulam á volta dos núcleos do real, deste modo, as redes simbólicas, são a nossa realidade social.
O imaginário
O imaginário, segundo Žižek, encontra-se situado ao nível da relação do sujeito consigo mesmo. É como o olhar do Outro na etapa do espelho, a falta em esse reconhecimento ilusório, como conclui Jacques Lacan citando a Arthur Rimbaud: "Eu sou um outro" ("Je suis un autre"). O imaginário é a fantasia fundamental que é inacessível á nossa experiência psíquica e se eleva do espectro fantasmático em que encontramos objectos de desejo. Aqui também podemos dividir o imaginário entre um real (o fantasma que assume o lugar do real), um imaginário (a imagem/espectral em si que serve como isco) e um simbólico imaginário (os arquétipos de Jung e o pensamento New Age). O imaginário nunca pode ser agarrado, já que todo discurso sobre ele sempre estará localizado no simbólico.
Todos os níveis estão interligados, de acordo com Jacques Lacan (desde o seminário XX para a frente), numa forma de nó gordiano, como três anéis enlaçados juntos de maneira que se um deles se desenlaçar, o resto também cairia.
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