quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Vinicius de Moraes & Toquinho - A Rosa Desfolhada

Natureza morta

O cravo brigou com a rosa debaixo d’uma sacada! Tá certo que o cravo saiu ferido, mas a rosa – triste fim – saiu despedaçada! O príncipe, desalmado e sem coração, encerrou a pobre coitada numa redoma e foi viajar pelos mundos! Acho que é por isso que o tal do príncipe era “pequeno”!
O enamorado, romântico e apaixonado, no intento de agradar a sua amada, se achou no direito de mutilar a pobre rosa retirando-lhe os espinhos, única proteção para seu frágil e delicado corpo! Hediondo isso!
Os amantes que antes viviam só de: “receba as flores que lhe dou, em cada flor um beijo meu”, agora enciumados e em pé de guerra, não se contentando apenas em se agredirem reciprocamente, investem contra a pobre infeliz que é lançada no frio mármore da morte, desfolhada e esmagada pela ira e pelo pérfido ciúme...
E, para não ficar só nas desventuras da rosa, vale lembrar o quanto deve ter sofrido a desvalida camélia para chegar ao ponto que chegou! Cair do galho, dar dois suspiros e depois morrer?! Dar cabo da própria vida, ainda tão jovem e bela? Isso é doloroso demais!
Afinal, alguém pode me dizer o que está acontecendo?! Por que tamanha insensibilidade?! É guerra, é?
Depois não venham reclamar que estão se alastrando por aí “Marias sem vergonha”, “trepadeiras”, e várias espécies de plantas carnívoras! Toda paciência tem limite, né não?!


Izabel Lisboa

hora capital

caiu a tarde
garoa fria
vespertina melancolia
uma vida cinza
dispensou o elevador
subiu as escadas
degrau por degrau
como a velar por si mesmo
[velório antecipado]
oitavo andar
a lágrima caiu primeiro
última gota de angustia
depois o corpo...
o transito ficou interditado na Jerônimo Monteiro
por uma hora
após a perícia fluiu livremente...

Izabel Lisboa