terça-feira, 20 de setembro de 2011

Gattaca - Experiência Genética

Ficha técnica:
Título original: (Gattaca)
Lançamento: 1997 (EUA)
Direção: Andrew Niccol
Atores: Ethan Hawke, Uma Thurman, Jude Law, Gore Vidal.
Duração: 112 min
Gênero: Ficção Científica

O filme Gattaca - Experiência Genética, apresenta uma sociedade futurista onde os seres humanos são gerados geneticamente em laboratório. Aqueles indivíduos que são concebidos de forma biologicamente natural são rotulados de incapazes e discriminados socialmente.
Nesse contexto, marcado por uma cultura excludente, um jovem astronauta é selecionado para uma importante Missão, tripulada, de um ano para Titã, 14ª lua de Saturno. A seleção de Jerome foi virtualmente garantida ao nascer. Através da engenharia genética e da reprodução assistida lhe foi garantido todos os dons exigidos para tal empreendimento: ele é geneticamente superior, portanto apto para tal Missão.
Tudo estaria dentro da ordem vigente se, através de fraude e falsidade ideológica, Vincent Freeman, um incapaz, inválido geneticamente, não burlasse o rígido "controle de qualidade" escondendo sua verdadeira identidade e conquistando um lugar de destaque na corporação: Vincent simplesmente passa-se por Jerome, indivíduo apto geneticamente, mas inválido devido a um acidente que o deixou paraplégico, portanto, inválido fisicamente.
Um misterioso assassinato dará um rumo inusitado à trama.
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Gattaca desencadeia no espectador uma série de reflexões críticas que vão ao encontro de questões e implicações éticas que permeiam as pesquisas e manipulações genética: Até onde pode chegar o homem nessa área do conhecimento científico? Existe limitações para esse tipo de experiência? O que é eticamente adequado e inadequado nessas pesquisas? Essas experiências estão livres de pressupostos eugênicos, ou teriam justamente esses pressupostos implícitos como mola propulsora?
A pesquisa genética avançou a passos largos nas últimas décadas. As notícias que nos chegam através da mídia, ou de revistas e periódicos especializados (da ovelha Dolly ao Projeto Genoma), vêm comprovar esse inquestionável avanço e trazer ao senso comum uma série de dúvidas, inquietações, questionamentos e expectativas.
Grande parte da comunidade científica aplaude cada conquista e cada descoberta feita. As instituições religiosas, juntamente com aqueles indivíduos preocupados com os aspectos éticos e a responsabilidade social, imbuídos de zelo, pedem prudência e bom senso aos pesquisadores, e, sobretudo, respeito à vida e ao ser humano em sua dignidade. A população, de forma geral, diante das "boas novas", quer usufruir dos benefícios quase que miraculosos propagados pelos mais entusiasmados. Enfim, é um caldeirão de sentimentos que entrou em ebulição: dúvidas, euforias, questionamentos, expectativas, medos e esperanças, afinal não dá para ficar impassível diante de tantas promessas: a cura ou erradicação de inúmeras doenças, o prolongamento da vida - que tem como pano de fundo o desejo da imortalidade - enfim, todo esse promissor horizonte que se abre com as descobertas através das pesquisas genéticas mexe com o imaginário e o universo simbólico no qual todos nós seres humano de alguma forma estamos inserido.
Segundo Marcelo A. Costa Lima, professor do Departamento de Genética da UERJ (http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=7272), nas duas últimas décadas, no Brasil, os investimentos financeiros no âmbito das pesquisas genéticas aumentaram significativamente e possibilitaram um acentuado incremento da produção científica nessa área. São muitas as descobertas no campo da genética que podem ser aplicadas em nossas vidas, como por exemplo:
- novos procedimentos técnicos que permitem realizar diagnóstico de doenças;
- produção de embriões em laboratório / reprodução assistida;
- detectar fator de risco - suscetibilidade a algumas doenças, para possível prevenção; etc.
Um marco importantíssimo nesse sentido é o Projeto Genoma, uma iniciativa múltiinstitucional que envolveu vários países e que começou na década de 80; teve como objetivo mapear toda a sequencia do material genético da espécie humana. Tal Projeto atingiu sua finalização, teve seu objetivo alcançado em 2003 e trouxe uma série de informações que possibilitaram inúmeras descobertas.
Apesar da velocidade das descobertas e dos avanços das pesquisas genéticas, tudo ainda é muito recente nessa área da ciência. No entanto, junto com a euforia das novas descobertas multiplicam-se consideravelmente os questionamentos e as expectativas diante desse "algo novo" que mescla paradoxalmente o extraordinário ao assustador.
Para exemplificar esse paradoxo para além da ficção:

Manipulação Genética / Ternura e Fidelidade:

Experiências inéditas, de manipulação genética, muda comportamento de uma espécie
tornando ratos mais fiéis e ternos para com suas fêmeas.
A experiência, apresentada no jornal eletrônico Journal of Neuroscience, (http://www.jneurosci.org/ ): Pesquisadores da Universidade Emory, usaram um vírus para inserir um gene específico na área do cérebro de roedores, responsável por sensações de recompensa e habituação. O que impressiona, e assusta, é que nos seres humanos essa área tem as mesmas funções.
O investigador Larry Young, que participou no estudo, disse que o interesse dos pesquisadores foi descobrir como é que o cérebro estabelece determinadas relações sociais, a partir daí poderiam desvendar por qual motivo, em algumas doenças, as pessoas perdem o interesse pelas outras, como por exemplo no autismo.
Um especialista da Universidade de Bristol, em um depoimento no site da revista Nature, define assim seus sentimentos em relação a essa experiência : "É extraordinário e quase assustador como se pode mudar o comportamento relativo à relação entre seres, mudando um único receptor no cérebro".

Izabel Lisboa