quinta-feira, 31 de março de 2011

o pior cego...

















máscaras gastas
não escondem a mesmice de sempre
onde tudo é nada
onde tudo é fuga
pela porta dos fundos
ou por buracos de esgoto
onde lixo e luxo se devoram
regados a vinho tinto
sob a luz de velas brancas
[enquanto]do lado de fora
homens morrem dormentes
carregando no lombo as dores
de contemporâneos quilombos
e para muito além
de onde a vista alcança
a manada pasta
[despreocupada]
desavisada à beira do precipício
cozinhando em banho-maria
[a vida]
ao sol de qualquer meio dia
***
Izabel Lisboa

quarta-feira, 30 de março de 2011

poético cio

afrodisíaco para o poeta
a poética exala feromônio
excita-lhe um sexto sentido
aguça-lhe a imaginação e
ele despe a palavra
sussurra adjetivos sugestivos
ao pé de seu ouvido
acaricia beija ama
entre os quatro cantos da página
faz um leito
a métrica sucumbi
na cadência rítmica
da cópula
do gozo...
o poema

Izabel Lisboa

domingo, 27 de março de 2011

sem moldura














MANABU MABE/ acrilica sobre tela

um raio de sol escarlate
feriu a boca da noite
o mundo cão farejou o assombro
o corpo
do outro lado da rua
o corpo
o grito
o sangue vivo
no paletó branco de cambraia de linho
um único golpe
uma lâmina afiada
o asfalto vermelho
no ar
um cheiro agradável de pão quentinho
espalhava-se com a aurora


Izabel Lisboa

sábado, 26 de março de 2011

galope

a palavra nascida de um ventre livre
galopa em meio a vida
corre solta desembestada
cavalga o tempo em frenesi
enlaçada ao lombo esguio e suado
de uma fogosa potranca nua

não leva consigo os fardos
como levam os dorsos das mulas
é livre e não tem amarras
carrega altiva bravura
lateja... pulsa inquieta
despe a alma... convoca e impõem o poeta

se não for bradada ao mundo... estremecerá
sufocada se debaterá
aprisionada se libertará
nunca arrefecerá...
da crina da potranca não desatará
enquanto aos quatro cantos não chegar


Izabel Lisboa

segunda-feira, 21 de março de 2011

acúmulo

sorrir já não me é leve
passei os últimos quarenta dias no deserto
[ou foram anos?]
no inverno sol de rachar

no verão geada
no cantil reserva de lágrimas
[recurso de sobrevivência para camelos]
passada a tempestade
renunciei à bonança
piquei a mula
dei uma guinada
[180º foi suficiente]
- engano seu...
do subsolo não restaram somente memórias...
escoriações sequelas e coisa e tal
agora ...
sorrir já não me é leve...
da boca só quero o céu

 
Izabel Lisboa

domingo, 13 de março de 2011

Japão - Silêncio e luto

Desde o terrível terremoto ocorrido no Japão busco palavras para expressar meu espanto! Tentei escrever um poema, mas palavras e versos (pelo menos os meus) me pareceram pequenos demais diante tamanha dor... Diante do terror de catástrofe tão pavorosa, e num profundo pesar e respeito ao povo japonês, tenho estado perplexa e emudecida...!

 
静けさと喪に服して
(Silêncio e luto)

quinta-feira, 10 de março de 2011

Dulcinea sem Dom
















Dulcinea del Toboso, by Charles RobeDulcrt Leslie



mira mais de perto e atentamente
aproxima teu olhar de minha tragicomédia

encosta teu ouvido nas paredes de meu peito aberto
e ouve do outro lado dessa frágil fortaleza
os rumores de uma sangrenta guerra santa

alcancei a tal curva do caminho
aquele ponto extremo onde não há mais volta
revolta tampouco me abaterá
ali simplesmente baila-se suavemente uma valsa fúnebre
ali onde a esperança e a morte são amantes

por mim eu não teria chegado a tanto
mas levaram embora meu Dom Quixote
prenderam meu salvador numa camisa de força
louco, louco, louco, bradavam aqueles sábios senhores
eu bem que avisei que sem ele a lucidez me enlouqueceria...


Izabel Lisboa

terça-feira, 8 de março de 2011

8 de março - Dia Internacional da Mulher



"Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos liberta
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do Planeta..."

(Milton Nascimento)