quarta-feira, 11 de maio de 2011

fast food & talibãs

Nem de longe defender ou justificar regimes autocráticos e figuras sinistras de talibãs e iatolás que recrutam homens, mulheres e crianças, para, em nome de um fundamentalismo insano, se auto-explodirem, espalharem morte e terror acreditando que assim encontrarão a libertação esperada e prometida e que esse é um mal menor diante do fel sutil e maligno próprio do capitalismo globalizado que corrói o fígado e a vida dos filhos do homem.
Existem, no entanto, guerras que não são travadas com a força bélica de poderosos exércitos, ou com cinturões de explosivos atados à cintura, mas com idéias e palavras maquiadas pela astúcia e pela boa retórica – a força bélica, claro, fica resguardada como Plano B.
A terra de Santa Cruz, por exemplo, foi entregue aos navegantes europeus por um punhado de quinquilharias oferecidas aos nativos, que eram os verdadeiros filhos da terra. Após as primeiras abordagens bem sucedidas dos primeiros desbravadores, caravelas vomitaram nas praias da nova e gigantesca Colônia pencas e pencas de jesuítas, habilidosos flautistas mágicos, que se esmeraram na arte de doutrinar os selvagens nativos, não só na catequese cristã, mas na superior cultura do Velho Mundo.
Claro que o olhar de um estrangeiro europeu que presenciasse as práticas canibais desses povos nativos se escandalizaria terrivelmente e aplaudiria efusivamente a nobre iniciativa dos conquistadores em frear e civilizar apropriadamente tais selvagens. Esse mesmo estrangeiro, todavia, provavelmente, não enxergaria a sutil crueldade na violação e destruição da cultura desses povos, tida pelos conquistadores como inferior e menor em dignidade e virtudes se comparada à cultura do “nobre e superior povo europeu civilizado”.
Hoje, não mais por espelhos e bugigangas afins, mas por um punhado de hambúrguers com coca cola, toca-se a flauta mágica e instala-se uma determinada ideologia dominante. Através da manipulação da subjetividade impõe-se às nações e aos povos uma cultura massificante – facilidades da globalização – e engendra-se uma sutil e cruel dominação; a ponto dos povos submetidos perderem sua identidade cultural e suas novas gerações, como que hipnotizadas pelas benesses do primeiro mundo, passarem a exaltar a cultura estranha do estrangeiro usurpador, menosprezando a terra natal na qual suas raízes estão fincadas. Quantos jovens das Américas do Sul e Central sonharam e sonham com um lugar ao sol acima da linha do equador e renegam com desdém seu torrão de origem?!
Para muitos o legítimo mundo atual é o mundo do fast food, um mundo com seu estilo de vida inventado, arquitetado e alimentado pelo sonho americanalhista; vendido e franqueado a preço alto; imposto ideologicamente aos quatro cantos do planeta; metido goela abaixo a todos os povos dos cinco continentes; exaltado acima de toda e qualquer cultura. Culturas que acabam por sucumbir quando terrivelmente violentadas pela ideologia imposta por aqueles que se acham donos do mundo.
Portanto, faz-se necessário um olhar mais abrangente, que abandone definitivamente a visão simplista e maniqueísta que tende a catalogar o mundo entre mocinhos e bandidos. Faz-se necessário um olhar que abarque as insanidades do terrorismo, fruto do fundamentalismo islâmico, mas, também, as sutis atrocidades do capitalismo globalizado, fruto do imperialismo ianque.

Izabel Lisboa