Digressão de Sísifo LXC
por Paulo Jonas de Lima Piva
Sabe por que eu amo você, mesmo que daquele jeito, estranho, distante, irritante às vezes, digamos, conceitualmente? Sobretudo porque você mantém aqueles lindos cabelos compridos dos seus dezesseis anos num cérebro arejado e acolhedor de balzaquiana inexperiente; porque você faz o que não deve, com quem não deve, em tardes de sábado que valem um tonitroante amor fati; porque você é seda e mel, é alucinação prudente, lucidez delicada, pessimismo lúdico, subterfúgio e antidepressivo sem efeitos colaterais; porque você tem pétalas na língua, explicações nos sorrisos, abraços nos olhos e nenhuma espada na cintura; enfim, porque você é um espelho generoso, a anti-Caixa de Pandora, a vitória definitiva sobre a culpa, a opinião sem verdade, a canção sempre animada, a ciranda interminável, a Hipárquia que todo Diógenes iludido com a fábula da autarquia tem medo de se entregar...
In: http://opensadordaaldeia.blogspot.com/2011/05/digressao-de-sisifo-lxc.html
segunda-feira, 9 de maio de 2011
domingo, 8 de maio de 2011
Dia das Mães Imperdível
Acabei de receber minha primeira felicitação pelo Dia das Mães por e-mail!
Diz assim em letras garrafais:
“Maria Izabel, feliz dia das Mães! Para aquela que não perde a majestade nem nos outros 364 dias do ano!
Todo o site com 10% de desconto em compras com boleto ou débito acima de R$ 499,00. E frete grátis para todo o Brasil nas compras acima de R$99,00. Imperdível”.
Não sei se rio, não sei se choro...
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Diz assim em letras garrafais:
“Maria Izabel, feliz dia das Mães! Para aquela que não perde a majestade nem nos outros 364 dias do ano!
Todo o site com 10% de desconto em compras com boleto ou débito acima de R$ 499,00. E frete grátis para todo o Brasil nas compras acima de R$99,00. Imperdível”.
Não sei se rio, não sei se choro...
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quarta-feira, 4 de maio de 2011
espelho & aço
diante do espelho
gélida é a solidão
e nunca estamos sós
- uma multidão espreita
no limiar do aço...
Izabel Lisboa
segunda-feira, 2 de maio de 2011
A grande Águia justiceira
Osama Bin Laden, cobra criada na Chechênia pelos EUA, foi morto com um tiro na cabeça, por um seleto time de soldados norte-americanos, segundo pronunciamento do chefe maior daquele país, Barack Obama.
Ao anunciar o heróico, honroso e suposto fato à nação norte-americana (cristã e não muçulmana é bom frisar) e ao mundo, Obama proclama que “a justiça foi feita”. Ou seja, a grande Águia justiceira elimina a maldição da face da terra. Tomou para si o direito de praticar a justiça, humana e divina, eliminando o mal onde quer que ele esteja. Especialmente se esse mal prejudica suas rapinagens e coloca barreiras aos seus interesses políticos e monetários pelo mundo afora.
Sem querer colocar água na fervura no ânimo dos norte-americanos, que já se manifestam em grandes festejos pelas avenidas e ruas das principais cidades do país, vale questionar: Que justiça foi feita? O que é fazer justiça? O que é justiça para o povo muçulmano? O que é justiça para uma nação que se diz cristã? Enfim, o que é justiça?! Esse país que toma para si o direito de fazer justiça no melhor estilo “olho por olho, dente por dente” é justo e íntegro em suas relações políticas e comerciais com o resto do mundo?!
Izabel Lisboa
domingo, 1 de maio de 2011
fim do mundo
saber é lixo
não saber é ouro
olhando de longe
é bicho
olhando de perto
é homem
rolando na linha
de (des)montagem
do novo
cada vez mais velho
m
u
n
d
o
o
o
.
.
.
.
.
Izabel Lisboa
quinta-feira, 28 de abril de 2011
caudalosidade
meu rio passa
roçando as margens com furor
lambe com volúpia
os orifícios das rochas
encravadas no seio da terra
apalpa raízes e caules rijos
sacode juncos intumescidos
esfola musgos escorregadios
lodo e pedras se abraçam
misturando-se ao gozo das águas
no leito profundo...
do meu rio que passa
Izabel Lisboa
quarta-feira, 27 de abril de 2011
caleidoscópio
eu vi
um cidadão do mundo
falando de solidão
num café em Paris
eu vi
um cidadão do mundo
mendigando no calçadão
roendo um pedaço de pão
eu vi
um cidadão do mundo
reclamando seu quinhão
num programa de calouros da televisão
eu vi
um cidadão do mundo
no boteco tomando cachaça
gastando seu último tostão
eu vi
um cidadão do mundo
corpo e alma em inquietação
sendo apenas mais um na perdida multidão
Izabel Lisboa
fissura
a unha
afiada
rasga
a carne
a mão
tremula
abre
o álcool
despeja
...
e goza
na outra dor
na outra dor
Izabel Lisboa
segunda-feira, 25 de abril de 2011
desconcerto
sobrevoando o tronco seco de uma árvore
um corvo agourento espreita
-Alan Poe foi um profeta...
um vento estranho assobia e varre a terra
talvez prenuncio de um inverno fora de hora
de um avesso do avesso desconhecido...desconcertante
ontem os feixes eram levados entre lágrimas
abundante fé num céu vindouro
certeza de uma terra prometida...
hoje?! cadê o cheiro de terra depois da chuva...cheiro de vida
cadê a terra...nossos sete palmos dela
nosso repouso eterno...cadê?!
o mundo concreto é de concreto
mesmo as covas...
são de frio concreto...muito frio...muito
nem os trinta e dois dentes brilhantes e brancos
do sorriso de Berenice
me trazem paz
sobrevoando o tronco seco de uma árvore
um corvo agourento espreita
-Alan Poe foi um profeta...Alan Poe foi um profeta...
Izabel Lisboa
domingo, 24 de abril de 2011
A carne alva de Proserpina
Gianlorenzo Bernini - O Rapto de Proserpina
chegarei à tua alma
somente isso almejo
nela farei meu ancoradouro
aportarei para sempre ali
sou deus
minha divindade te subjugará
ante tamanho fascínio te levarei comigo
rumo às profundezas dos abismos da terra fértil
percorrerei trilhas e desfiladeiros
vales e cavernas misteriosas
deleitosos caminhos de tua carne alva
sorverei o néctar dos sulcos mais profundos
que nenhum mortal ousou tocar
despojado de minha divindade
serei escravo de tuas entranhas
nos verões e primaveras
os que habitam a superfície da terra
gozarão saciados com tua presença
padecerei fome...
nos invernos e outonos
tu serás minha...
ai dos homens... será para eles tempo de penúria
sábado, 23 de abril de 2011
tal & qual
e esse seu lado pragmático
e essa sua cara lavada
e toda essa sua estupidez
de agredir primeiro
e ponderar depois
ambíguo insensato nada sutil
cheio de artimanhas
dizendo que isso faz parte
afinal você é humano
não obstante
na maioria das vezes... desumano!
buscando suas certezas
tateando seu chão
aos trancos e barrancos
de um jeito ou de outro
tentando amenizar o seu desgosto
de maneira insana
as vezes camusiana
[absurdamente]
ou kierkegaardiana
[desesperadamente]
contudo
apesar de tão diferentes
há entre nós certa simbiose...
buscamos juntos
à mesma proporção
cada um a sua maneira
aquela mesma emoção...
revolta armada
- uma cabeça quente não pensa,
uma cabeça quente ferve, fervilha
e isso é bom... isso é muito bom
enfiaram-me goela abaixo
os disparates de sempre
agora é hora do vômito:
- não venham falar em liberdade
carcereiros de plantão
pregadores da liberdade, vocês outros
enquanto constroem prisões
desfiam rosários de compaixão
trancafiam uma alma
apenas com um olhar
seus navios, ontem negreiros
hoje empilham em seus porões
todas as cores do arco-íris
- éramos todos prisioneiros
quando fizemos aquelas promessas
não passávamos de prisioneiros
tínhamos tampões nos olhos
como as viseiras dos animais de carga
tínhamos mãos e pés acorrentados
aprendemos somente depois
em nossas lutas
no campo de batalha
que verdadeira quimera
é não ter o rabo preso e
conservar sempre, sempre
a língua solta... E afiada
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Under Pressure
"E o amor te desafia a se importar com
As pessoas no limite da noite,
E o amor desafia você a mudar nosso modo de
Nos preocupar com nós mesmos
Esta é nossa última dança
Esta é nossa última dança
Isto somos nós mesmos
Sob pressão
Sob pressão
Pressão..."
quinta-feira, 21 de abril de 2011
um [?] colecionador de alter egos
persona
quebrou seu melhor espelho
em mil e Um fragmentos de si
semeou eus
embrenhou-se naquela multidão pessoal
[e virtual]
desocupou-se de si
descongestionou-se de si
ocultou-se [neles e deles]
espalhou seus cacos
fez-se anônimo
pseudônimo[s]
num caleidoscópio de si
[e era tão bom
que todos pediam bis...]
que todos pediam bis...]
resposta pro Chico
sem me afobar ter que esperar milênios
e guardar no fundo de um armário
o amor que hoje não posso te dar
- terei eu esse frio sangue?
de aguardar um escafandrista chegar
e num futuro remoto e distante
numa cidade submersa explorar
minha casa
meu quarto
minhas coisas
meus desvãos
aguardar e aguardar
que sábios decifrem
o eco de minhas palavras
os fragmentos de meus poemas
tendo de me contentar
que futuros amantes se amem
sem saber
com o amor que um dia
deixei pra você?
- sobre-humana paciência...
quarta-feira, 20 de abril de 2011
o cheiro do ralo
Ele entra. Coloca o violino em minha mesa. Não fala nada. Nem boa tarde. Fico em silêncio.
Afinal o interesse é dele. Então ele fala, quanto? Chuto, tanto. Ele coça a barba.
Esse violino deve ter história, chuto. Ele me olha. Seu olhar me incomoda. Ele pega o violino e sai.
Mas antes de fechar a porta, solta:
Aqui cheira a merda.
É o ralo.
Não. Não é não.
Claro que é.
O cheiro vem do ralo.
Ele entra e fecha a porta.
O cheiro vem de você.
Olha lá.
Levanto e caminho até o banheirinho.
Olha lá, o cheiro vem do ralinho.
Ele ri coçando a barba.
Quem usa esse banheiro?
Eu.
Quem mais?
Só eu.
Ele continua com o sorriso no rosto, solta:
E então, de onde vem o cheiro?"
(trecho de O Cheiro do Ralo, de Lourenço Mutarelli - livro que inspirou o filme).
Afinal o interesse é dele. Então ele fala, quanto? Chuto, tanto. Ele coça a barba.
Esse violino deve ter história, chuto. Ele me olha. Seu olhar me incomoda. Ele pega o violino e sai.
Mas antes de fechar a porta, solta:
Aqui cheira a merda.
É o ralo.
Não. Não é não.
Claro que é.
O cheiro vem do ralo.
Ele entra e fecha a porta.
O cheiro vem de você.
Olha lá.
Levanto e caminho até o banheirinho.
Olha lá, o cheiro vem do ralinho.
Ele ri coçando a barba.
Quem usa esse banheiro?
Eu.
Quem mais?
Só eu.
Ele continua com o sorriso no rosto, solta:
E então, de onde vem o cheiro?"
(trecho de O Cheiro do Ralo, de Lourenço Mutarelli - livro que inspirou o filme).
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