sábado, 14 de maio de 2011
geografias
existe
(Ser) humano ilha
arquipélago
continente
enseada
oceano
...
(Ser) humano rio
nascente
córrego
riacho
lagoa
...
(Ser) humano estreito
montanha
estuário
planície
vale
...
(Ser) humano vulcão
placa tectônica
fossa oceânica
encosta
platô
...
(Ser) humano geleira
caverna
mangue
deserto
oásis
...
existe (Ser) humano abismo...
Izabel Lisboa
Drummond, pedras e caminhos
no meio de uma pedra tinha um caminho
tinha um caminho no meio de uma pedra
abri um caminho no meio de uma pedra
no meio de uma pedra abri um caminho
nunca esquecerei...
Izabel Lisboa
quarta-feira, 11 de maio de 2011
fast food & talibãs
Nem de longe defender ou justificar regimes autocráticos e figuras sinistras de talibãs e iatolás que recrutam homens, mulheres e crianças, para, em nome de um fundamentalismo insano, se auto-explodirem, espalharem morte e terror acreditando que assim encontrarão a libertação esperada e prometida e que esse é um mal menor diante do fel sutil e maligno próprio do capitalismo globalizado que corrói o fígado e a vida dos filhos do homem.
Existem, no entanto, guerras que não são travadas com a força bélica de poderosos exércitos, ou com cinturões de explosivos atados à cintura, mas com idéias e palavras maquiadas pela astúcia e pela boa retórica – a força bélica, claro, fica resguardada como Plano B.
A terra de Santa Cruz, por exemplo, foi entregue aos navegantes europeus por um punhado de quinquilharias oferecidas aos nativos, que eram os verdadeiros filhos da terra. Após as primeiras abordagens bem sucedidas dos primeiros desbravadores, caravelas vomitaram nas praias da nova e gigantesca Colônia pencas e pencas de jesuítas, habilidosos flautistas mágicos, que se esmeraram na arte de doutrinar os selvagens nativos, não só na catequese cristã, mas na superior cultura do Velho Mundo.
Claro que o olhar de um estrangeiro europeu que presenciasse as práticas canibais desses povos nativos se escandalizaria terrivelmente e aplaudiria efusivamente a nobre iniciativa dos conquistadores em frear e civilizar apropriadamente tais selvagens. Esse mesmo estrangeiro, todavia, provavelmente, não enxergaria a sutil crueldade na violação e destruição da cultura desses povos, tida pelos conquistadores como inferior e menor em dignidade e virtudes se comparada à cultura do “nobre e superior povo europeu civilizado”.
Hoje, não mais por espelhos e bugigangas afins, mas por um punhado de hambúrguers com coca cola, toca-se a flauta mágica e instala-se uma determinada ideologia dominante. Através da manipulação da subjetividade impõe-se às nações e aos povos uma cultura massificante – facilidades da globalização – e engendra-se uma sutil e cruel dominação; a ponto dos povos submetidos perderem sua identidade cultural e suas novas gerações, como que hipnotizadas pelas benesses do primeiro mundo, passarem a exaltar a cultura estranha do estrangeiro usurpador, menosprezando a terra natal na qual suas raízes estão fincadas. Quantos jovens das Américas do Sul e Central sonharam e sonham com um lugar ao sol acima da linha do equador e renegam com desdém seu torrão de origem?!
Para muitos o legítimo mundo atual é o mundo do fast food, um mundo com seu estilo de vida inventado, arquitetado e alimentado pelo sonho americanalhista; vendido e franqueado a preço alto; imposto ideologicamente aos quatro cantos do planeta; metido goela abaixo a todos os povos dos cinco continentes; exaltado acima de toda e qualquer cultura. Culturas que acabam por sucumbir quando terrivelmente violentadas pela ideologia imposta por aqueles que se acham donos do mundo.
Portanto, faz-se necessário um olhar mais abrangente, que abandone definitivamente a visão simplista e maniqueísta que tende a catalogar o mundo entre mocinhos e bandidos. Faz-se necessário um olhar que abarque as insanidades do terrorismo, fruto do fundamentalismo islâmico, mas, também, as sutis atrocidades do capitalismo globalizado, fruto do imperialismo ianque.
Izabel Lisboa
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Sabe por que eu amo você...
Digressão de Sísifo LXC
por Paulo Jonas de Lima Piva
Sabe por que eu amo você, mesmo que daquele jeito, estranho, distante, irritante às vezes, digamos, conceitualmente? Sobretudo porque você mantém aqueles lindos cabelos compridos dos seus dezesseis anos num cérebro arejado e acolhedor de balzaquiana inexperiente; porque você faz o que não deve, com quem não deve, em tardes de sábado que valem um tonitroante amor fati; porque você é seda e mel, é alucinação prudente, lucidez delicada, pessimismo lúdico, subterfúgio e antidepressivo sem efeitos colaterais; porque você tem pétalas na língua, explicações nos sorrisos, abraços nos olhos e nenhuma espada na cintura; enfim, porque você é um espelho generoso, a anti-Caixa de Pandora, a vitória definitiva sobre a culpa, a opinião sem verdade, a canção sempre animada, a ciranda interminável, a Hipárquia que todo Diógenes iludido com a fábula da autarquia tem medo de se entregar...
In: http://opensadordaaldeia.blogspot.com/2011/05/digressao-de-sisifo-lxc.html
por Paulo Jonas de Lima Piva
Sabe por que eu amo você, mesmo que daquele jeito, estranho, distante, irritante às vezes, digamos, conceitualmente? Sobretudo porque você mantém aqueles lindos cabelos compridos dos seus dezesseis anos num cérebro arejado e acolhedor de balzaquiana inexperiente; porque você faz o que não deve, com quem não deve, em tardes de sábado que valem um tonitroante amor fati; porque você é seda e mel, é alucinação prudente, lucidez delicada, pessimismo lúdico, subterfúgio e antidepressivo sem efeitos colaterais; porque você tem pétalas na língua, explicações nos sorrisos, abraços nos olhos e nenhuma espada na cintura; enfim, porque você é um espelho generoso, a anti-Caixa de Pandora, a vitória definitiva sobre a culpa, a opinião sem verdade, a canção sempre animada, a ciranda interminável, a Hipárquia que todo Diógenes iludido com a fábula da autarquia tem medo de se entregar...
In: http://opensadordaaldeia.blogspot.com/2011/05/digressao-de-sisifo-lxc.html
domingo, 8 de maio de 2011
Dia das Mães Imperdível
Acabei de receber minha primeira felicitação pelo Dia das Mães por e-mail!
Diz assim em letras garrafais:
“Maria Izabel, feliz dia das Mães! Para aquela que não perde a majestade nem nos outros 364 dias do ano!
Todo o site com 10% de desconto em compras com boleto ou débito acima de R$ 499,00. E frete grátis para todo o Brasil nas compras acima de R$99,00. Imperdível”.
Não sei se rio, não sei se choro...
_________________________
Diz assim em letras garrafais:
“Maria Izabel, feliz dia das Mães! Para aquela que não perde a majestade nem nos outros 364 dias do ano!
Todo o site com 10% de desconto em compras com boleto ou débito acima de R$ 499,00. E frete grátis para todo o Brasil nas compras acima de R$99,00. Imperdível”.
Não sei se rio, não sei se choro...
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quarta-feira, 4 de maio de 2011
espelho & aço
diante do espelho
gélida é a solidão
e nunca estamos sós
- uma multidão espreita
no limiar do aço...
Izabel Lisboa
segunda-feira, 2 de maio de 2011
A grande Águia justiceira
Osama Bin Laden, cobra criada na Chechênia pelos EUA, foi morto com um tiro na cabeça, por um seleto time de soldados norte-americanos, segundo pronunciamento do chefe maior daquele país, Barack Obama.
Ao anunciar o heróico, honroso e suposto fato à nação norte-americana (cristã e não muçulmana é bom frisar) e ao mundo, Obama proclama que “a justiça foi feita”. Ou seja, a grande Águia justiceira elimina a maldição da face da terra. Tomou para si o direito de praticar a justiça, humana e divina, eliminando o mal onde quer que ele esteja. Especialmente se esse mal prejudica suas rapinagens e coloca barreiras aos seus interesses políticos e monetários pelo mundo afora.
Sem querer colocar água na fervura no ânimo dos norte-americanos, que já se manifestam em grandes festejos pelas avenidas e ruas das principais cidades do país, vale questionar: Que justiça foi feita? O que é fazer justiça? O que é justiça para o povo muçulmano? O que é justiça para uma nação que se diz cristã? Enfim, o que é justiça?! Esse país que toma para si o direito de fazer justiça no melhor estilo “olho por olho, dente por dente” é justo e íntegro em suas relações políticas e comerciais com o resto do mundo?!
Izabel Lisboa
domingo, 1 de maio de 2011
fim do mundo
saber é lixo
não saber é ouro
olhando de longe
é bicho
olhando de perto
é homem
rolando na linha
de (des)montagem
do novo
cada vez mais velho
m
u
n
d
o
o
o
.
.
.
.
.
Izabel Lisboa
quinta-feira, 28 de abril de 2011
caudalosidade
meu rio passa
roçando as margens com furor
lambe com volúpia
os orifícios das rochas
encravadas no seio da terra
apalpa raízes e caules rijos
sacode juncos intumescidos
esfola musgos escorregadios
lodo e pedras se abraçam
misturando-se ao gozo das águas
no leito profundo...
do meu rio que passa
Izabel Lisboa
quarta-feira, 27 de abril de 2011
caleidoscópio
eu vi
um cidadão do mundo
falando de solidão
num café em Paris
eu vi
um cidadão do mundo
mendigando no calçadão
roendo um pedaço de pão
eu vi
um cidadão do mundo
reclamando seu quinhão
num programa de calouros da televisão
eu vi
um cidadão do mundo
no boteco tomando cachaça
gastando seu último tostão
eu vi
um cidadão do mundo
corpo e alma em inquietação
sendo apenas mais um na perdida multidão
Izabel Lisboa
fissura
a unha
afiada
rasga
a carne
a mão
tremula
abre
o álcool
despeja
...
e goza
na outra dor
na outra dor
Izabel Lisboa
segunda-feira, 25 de abril de 2011
desconcerto
sobrevoando o tronco seco de uma árvore
um corvo agourento espreita
-Alan Poe foi um profeta...
um vento estranho assobia e varre a terra
talvez prenuncio de um inverno fora de hora
de um avesso do avesso desconhecido...desconcertante
ontem os feixes eram levados entre lágrimas
abundante fé num céu vindouro
certeza de uma terra prometida...
hoje?! cadê o cheiro de terra depois da chuva...cheiro de vida
cadê a terra...nossos sete palmos dela
nosso repouso eterno...cadê?!
o mundo concreto é de concreto
mesmo as covas...
são de frio concreto...muito frio...muito
nem os trinta e dois dentes brilhantes e brancos
do sorriso de Berenice
me trazem paz
sobrevoando o tronco seco de uma árvore
um corvo agourento espreita
-Alan Poe foi um profeta...Alan Poe foi um profeta...
Izabel Lisboa
domingo, 24 de abril de 2011
A carne alva de Proserpina
Gianlorenzo Bernini - O Rapto de Proserpina
chegarei à tua alma
somente isso almejo
nela farei meu ancoradouro
aportarei para sempre ali
sou deus
minha divindade te subjugará
ante tamanho fascínio te levarei comigo
rumo às profundezas dos abismos da terra fértil
percorrerei trilhas e desfiladeiros
vales e cavernas misteriosas
deleitosos caminhos de tua carne alva
sorverei o néctar dos sulcos mais profundos
que nenhum mortal ousou tocar
despojado de minha divindade
serei escravo de tuas entranhas
nos verões e primaveras
os que habitam a superfície da terra
gozarão saciados com tua presença
padecerei fome...
nos invernos e outonos
tu serás minha...
ai dos homens... será para eles tempo de penúria
sábado, 23 de abril de 2011
tal & qual
e esse seu lado pragmático
e essa sua cara lavada
e toda essa sua estupidez
de agredir primeiro
e ponderar depois
ambíguo insensato nada sutil
cheio de artimanhas
dizendo que isso faz parte
afinal você é humano
não obstante
na maioria das vezes... desumano!
buscando suas certezas
tateando seu chão
aos trancos e barrancos
de um jeito ou de outro
tentando amenizar o seu desgosto
de maneira insana
as vezes camusiana
[absurdamente]
ou kierkegaardiana
[desesperadamente]
contudo
apesar de tão diferentes
há entre nós certa simbiose...
buscamos juntos
à mesma proporção
cada um a sua maneira
aquela mesma emoção...
revolta armada
- uma cabeça quente não pensa,
uma cabeça quente ferve, fervilha
e isso é bom... isso é muito bom
enfiaram-me goela abaixo
os disparates de sempre
agora é hora do vômito:
- não venham falar em liberdade
carcereiros de plantão
pregadores da liberdade, vocês outros
enquanto constroem prisões
desfiam rosários de compaixão
trancafiam uma alma
apenas com um olhar
seus navios, ontem negreiros
hoje empilham em seus porões
todas as cores do arco-íris
- éramos todos prisioneiros
quando fizemos aquelas promessas
não passávamos de prisioneiros
tínhamos tampões nos olhos
como as viseiras dos animais de carga
tínhamos mãos e pés acorrentados
aprendemos somente depois
em nossas lutas
no campo de batalha
que verdadeira quimera
é não ter o rabo preso e
conservar sempre, sempre
a língua solta... E afiada
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Under Pressure
"E o amor te desafia a se importar com
As pessoas no limite da noite,
E o amor desafia você a mudar nosso modo de
Nos preocupar com nós mesmos
Esta é nossa última dança
Esta é nossa última dança
Isto somos nós mesmos
Sob pressão
Sob pressão
Pressão..."
quinta-feira, 21 de abril de 2011
um [?] colecionador de alter egos
persona
quebrou seu melhor espelho
em mil e Um fragmentos de si
semeou eus
embrenhou-se naquela multidão pessoal
[e virtual]
desocupou-se de si
descongestionou-se de si
ocultou-se [neles e deles]
espalhou seus cacos
fez-se anônimo
pseudônimo[s]
num caleidoscópio de si
[e era tão bom
que todos pediam bis...]
que todos pediam bis...]
resposta pro Chico
sem me afobar ter que esperar milênios
e guardar no fundo de um armário
o amor que hoje não posso te dar
- terei eu esse frio sangue?
de aguardar um escafandrista chegar
e num futuro remoto e distante
numa cidade submersa explorar
minha casa
meu quarto
minhas coisas
meus desvãos
aguardar e aguardar
que sábios decifrem
o eco de minhas palavras
os fragmentos de meus poemas
tendo de me contentar
que futuros amantes se amem
sem saber
com o amor que um dia
deixei pra você?
- sobre-humana paciência...
quarta-feira, 20 de abril de 2011
o cheiro do ralo
Ele entra. Coloca o violino em minha mesa. Não fala nada. Nem boa tarde. Fico em silêncio.
Afinal o interesse é dele. Então ele fala, quanto? Chuto, tanto. Ele coça a barba.
Esse violino deve ter história, chuto. Ele me olha. Seu olhar me incomoda. Ele pega o violino e sai.
Mas antes de fechar a porta, solta:
Aqui cheira a merda.
É o ralo.
Não. Não é não.
Claro que é.
O cheiro vem do ralo.
Ele entra e fecha a porta.
O cheiro vem de você.
Olha lá.
Levanto e caminho até o banheirinho.
Olha lá, o cheiro vem do ralinho.
Ele ri coçando a barba.
Quem usa esse banheiro?
Eu.
Quem mais?
Só eu.
Ele continua com o sorriso no rosto, solta:
E então, de onde vem o cheiro?"
(trecho de O Cheiro do Ralo, de Lourenço Mutarelli - livro que inspirou o filme).
Afinal o interesse é dele. Então ele fala, quanto? Chuto, tanto. Ele coça a barba.
Esse violino deve ter história, chuto. Ele me olha. Seu olhar me incomoda. Ele pega o violino e sai.
Mas antes de fechar a porta, solta:
Aqui cheira a merda.
É o ralo.
Não. Não é não.
Claro que é.
O cheiro vem do ralo.
Ele entra e fecha a porta.
O cheiro vem de você.
Olha lá.
Levanto e caminho até o banheirinho.
Olha lá, o cheiro vem do ralinho.
Ele ri coçando a barba.
Quem usa esse banheiro?
Eu.
Quem mais?
Só eu.
Ele continua com o sorriso no rosto, solta:
E então, de onde vem o cheiro?"
(trecho de O Cheiro do Ralo, de Lourenço Mutarelli - livro que inspirou o filme).
terça-feira, 19 de abril de 2011
domingo, 17 de abril de 2011
de Lisboa à Vera Cruz
ser Lisboa...
Pessoa
lusitana
mais que além mar
sobre cascos de caravelas
inundar o Atlântico
em prantos
não querendo ir
não podendo ficar
para não esquecer os poetas de cá:
doce seria morrer no mar...
entre pátrias
entre vagas e borrascas
gaivotas e fragatas
entre pátrias amadas
fados e pagodes
descobrindo Brasis
recitando Camões
desmascarando Cabrais
resgatando Portugais
mundo velho
novo mundo
por aqui
por lá
lusitanamente
brasileiramente
mamelucamente
ser...
Izabel Lisboa
terça-feira, 12 de abril de 2011
apetrechos e cangalhas
o dotô sabe das coisa
é letrado nos conhecimento
eu, de minha parte
aprendi a vida no lombo de um jumento
levando caçuás na canga
e sol à queimar as venta
quem sabe num era eu o bicho
que devia servir de assento
ao invés do pobre jumento?!
Izabel Lisboa
sábado, 9 de abril de 2011
quinta-feira, 7 de abril de 2011
terça-feira, 5 de abril de 2011
é
um fio de suspiro
com hálito de vida
uma pequena janela da alma
donde se debruçam olhares
um minúsculo grão de areia
com jeito nobre de esperança
um bater de asas de colibri
onde as almas se refrescam
um contínuo aperto no peito
que nas ausências inunda os leitos
um não sei que com jeito de dor
que os poetas chamam: amor
Izabel Lisboa
domingo, 3 de abril de 2011
quinta-feira, 31 de março de 2011
o pior cego...
máscaras gastas
não escondem a mesmice de sempre
onde tudo é nada
onde tudo é fuga
pela porta dos fundos
ou por buracos de esgoto
onde lixo e luxo se devoram
regados a vinho tinto
sob a luz de velas brancas
[enquanto]do lado de fora
homens morrem dormentes
carregando no lombo as dores
de contemporâneos quilombos
e para muito além
de onde a vista alcança
a manada pasta
[despreocupada]
desavisada à beira do precipício
cozinhando em banho-maria
[a vida]
ao sol de qualquer meio dia
***
Izabel Lisboa
quarta-feira, 30 de março de 2011
poético cio
afrodisíaco para o poeta
a poética exala feromônio
excita-lhe um sexto sentido
aguça-lhe a imaginação e
ele despe a palavra
sussurra adjetivos sugestivos
ao pé de seu ouvido
acaricia beija ama
entre os quatro cantos da página
faz um leito
a métrica sucumbi
na cadência rítmica
da cópula
do gozo...
o poema
Izabel Lisboa
domingo, 27 de março de 2011
sem moldura
MANABU MABE/ acrilica sobre tela
um raio de sol escarlate
feriu a boca da noite
o mundo cão farejou o assombro
o corpo
do outro lado da rua
o corpo
o grito
o sangue vivo
no paletó branco de cambraia de linho
um único golpe
uma lâmina afiada
o asfalto vermelho
no ar
um cheiro agradável de pão quentinho
espalhava-se com a aurora
Izabel Lisboa
sábado, 26 de março de 2011
galope
a palavra nascida de um ventre livre
galopa em meio a vida
corre solta desembestada
cavalga o tempo em frenesi
enlaçada ao lombo esguio e suado
de uma fogosa potranca nua
não leva consigo os fardos
como levam os dorsos das mulas
é livre e não tem amarras
carrega altiva bravura
lateja... pulsa inquieta
despe a alma... convoca e impõem o poeta
se não for bradada ao mundo... estremecerá
sufocada se debaterá
aprisionada se libertará
nunca arrefecerá...
da crina da potranca não desatará
enquanto aos quatro cantos não chegar
Izabel Lisboa
galopa em meio a vida
corre solta desembestada
cavalga o tempo em frenesi
enlaçada ao lombo esguio e suado
de uma fogosa potranca nua
não leva consigo os fardos
como levam os dorsos das mulas
é livre e não tem amarras
carrega altiva bravura
lateja... pulsa inquieta
despe a alma... convoca e impõem o poeta
se não for bradada ao mundo... estremecerá
sufocada se debaterá
aprisionada se libertará
nunca arrefecerá...
da crina da potranca não desatará
enquanto aos quatro cantos não chegar
Izabel Lisboa
quarta-feira, 23 de março de 2011
segunda-feira, 21 de março de 2011
acúmulo
sorrir já não me é leve
passei os últimos quarenta dias no deserto
[ou foram anos?]
no inverno sol de rachar
no verão geada
no cantil reserva de lágrimas
[recurso de sobrevivência para camelos]
passada a tempestade
renunciei à bonança
piquei a mula
dei uma guinada
[180º foi suficiente]
- engano seu...
do subsolo não restaram somente memórias...
escoriações sequelas e coisa e tal
agora ...
sorrir já não me é leve...
da boca só quero o céu
Izabel Lisboa
sorrir já não me é leve
passei os últimos quarenta dias no deserto
[ou foram anos?]
no inverno sol de rachar
no verão geada
no cantil reserva de lágrimas
[recurso de sobrevivência para camelos]
passada a tempestade
renunciei à bonança
piquei a mula
dei uma guinada
[180º foi suficiente]
- engano seu...
do subsolo não restaram somente memórias...
escoriações sequelas e coisa e tal
agora ...
sorrir já não me é leve...
da boca só quero o céu
Izabel Lisboa
sábado, 19 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
domingo, 13 de março de 2011
Japão - Silêncio e luto
Desde o terrível terremoto ocorrido no Japão busco palavras para expressar meu espanto! Tentei escrever um poema, mas palavras e versos (pelo menos os meus) me pareceram pequenos demais diante tamanha dor... Diante do terror de catástrofe tão pavorosa, e num profundo pesar e respeito ao povo japonês, tenho estado perplexa e emudecida...!
静けさと喪に服して
(Silêncio e luto)
静けさと喪に服して
(Silêncio e luto)
quinta-feira, 10 de março de 2011
Dulcinea sem Dom
Dulcinea del Toboso, by Charles RobeDulcrt Leslie
mira mais de perto e atentamente
aproxima teu olhar de minha tragicomédia
encosta teu ouvido nas paredes de meu peito aberto
e ouve do outro lado dessa frágil fortaleza
os rumores de uma sangrenta guerra santa
alcancei a tal curva do caminho
aquele ponto extremo onde não há mais volta
revolta tampouco me abaterá
ali simplesmente baila-se suavemente uma valsa fúnebre
ali onde a esperança e a morte são amantes
por mim eu não teria chegado a tanto
mas levaram embora meu Dom Quixote
prenderam meu salvador numa camisa de força
louco, louco, louco, bradavam aqueles sábios senhores
eu bem que avisei que sem ele a lucidez me enlouqueceria...
Izabel Lisboa
terça-feira, 8 de março de 2011
8 de março - Dia Internacional da Mulher
"Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos liberta
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do Planeta..."
(Milton Nascimento)
segunda-feira, 7 de março de 2011
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
lúcida loucura
uma inquietação tão grande
um coração que no peito só se expande
aquela certeza que inunda a alma dos navegantes
de que a vida é muito mais do que um fugidio instante
de que existirão ancoradouros
embora distantes
inquietações de gente que sabe ser gente
ecos de histórias distantes
devaneios como os de Dom Quixote de La Mancha
moinhos e redemoinhos de ventos cortantes
idéias e loucuras sãs
da mente livre de Miguel de Cervantes
coisas de viajantes e peregrinos
de gente sem muito tino
que respira a vida num desatino
que vive nas aflições e nos labirintos
gente profundamente gente
de alma e de corpo presente
a perambular
a melodiar
a se encantar...
- quisera ser gente como essa gente...
Izabel Lisboa
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
pé no chão
cabeça nas nuvens
e sabedoria na taça
Zeus não sabe amar
apenas quer ser amado...
pobre e mesquinho deus
velho caduco
imortal infeliz
invejoso dos mortais
que não são...flor de fino trato
como o arrogante olímpico é
simplesmente amam
como a manteiga ama o pão
ou o arroz ama o feijão
o lirismo?!
- foi lamber sabão
Izabel Lisboa
e sabedoria na taça
Zeus não sabe amar
apenas quer ser amado...
pobre e mesquinho deus
velho caduco
imortal infeliz
invejoso dos mortais
que não são...flor de fino trato
como o arrogante olímpico é
simplesmente amam
como a manteiga ama o pão
ou o arroz ama o feijão
o lirismo?!
- foi lamber sabão
Izabel Lisboa
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
alçapão
aprumou-se com esmero
cambraia de linho no terninho
pisante reluzindo no verniz
chapéu coco de ladinho
na lapela um cravinho
água Velva após a barba
brilhantina Guanabara...
- mas a desalmada nem deu as caras...
Izabel Lisboa
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Blogagem coletiva em comemoração ao 1º ano de existência do blog “Sonhar e Ser”
http://www.sonhareser.com.br/2011/02/1-blogagem-coletiva-do-sonhar-e-ser.html
***
A capacidade de sonhar renova em nós:
o sopro de vida que nos fez um dia existir
o sorriso de nossa criança interior
a sabedoria de semear esperança e amor
a capacidade de crescer e conservar no peito
um coração sonhador...
***
Parabéns, Liliane, por esse UM ano de existência do “Sonhar e Ser”!
Continue nos presenteando com esse seu jeito terno e amoroso de dizer e demonstrar que a vida é um dom precioso e que deve ser respeitada e partilhada com dignidade e amor em abundância!
Beijos, muitos e muitos!!!
Izabel
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
domingo, 13 de fevereiro de 2011
que seja então...
talvez a última
quem sabe a penúltima
quantas
muitas
todas sofridas
não merecidas
assim são as lágrimas
as minhas
brotando de um viés sem saída
de uma ótica descabida
impossível de ser diluída
como tristeza incontida
que você nem sentiu
nem viu
por outras vias partiu
foi garimpar teu ouro
acumular teu tesouro
ser feliz ao longe...
- que seja então
Izabel Lisboa
quem sabe a penúltima
quantas
muitas
todas sofridas
não merecidas
assim são as lágrimas
as minhas
brotando de um viés sem saída
de uma ótica descabida
impossível de ser diluída
como tristeza incontida
que você nem sentiu
nem viu
por outras vias partiu
foi garimpar teu ouro
acumular teu tesouro
ser feliz ao longe...
- que seja então
Izabel Lisboa
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